Datas da História

O PCP no Porto<br>Maio de 1926 – Março de 1927

J.M. Costa Feijão

O triunfo da intriga conspirativa das forças ultra reaccionárias da sociedade portuguesa, em 28 de Maio de 1926, não surpreendeu os comunistas que há muito alertavam a opinião pública e as massas trabalhadoras em especial, para o perigo fascista. E nessa linha, a 29 de Maio, os delegados reunidos no II Congresso do PCP aprovaram uma moção da Comissão Central onde se decidia «chamar a atenção dos trabalhadores e dos seus organismos a fim de se criar uma acção comum contra a atroz reacção que, sem dúvida, os novos governos vão desencadear sobre o país e que atingirá de preferência o operariado, para entregá-lo de pés e mãos aos exploradores do seu esforço».

Contudo, a complexidade da situação política e as ilusórias garantias dadas por alguns prestigiados chefes militares, adormeceram as consciências, face à eliminação do republicanismo liberal, operada entre 28 de Maio – 9 de Julho 1926. Oscar Carmona emergira como líder do bloco militar conservador e impusera a ditadura militar com novas medidas repressivas. A 14 de Agosto, dez polícias assaltaram e passaram busca à sede do PCP, na Rua do Arco do Marquês de Alegrete, n.º 30 - 2º D.º, em Lisboa.

Mas, apesar das alterações políticas, ainda subsistia campo de manobra para a actividade partidária, principalmente, longe da capital.

Por exemplo, no Porto, em 8 de Setembro de 1926, as células do PCP na R. Gomes Freire e Corticeira realizam uma sessão de propaganda, com intervenções sobre: «a crise do capitalismo e a ditadura do proletariado»; «o PCP, a classe operária e a Internacional Comunista» e «o porquê de ser Comunista». Entretanto, como as dependências nos Aliados já não correspondiam às exigências da expansão da organização, em 3 de Outubro, a Federação Regional Comunista do Norte inaugurou as novas instalações da sua sede, na Rua de Traz, n.º 196-2º.

Prosseguindo a actividade, em 21 e 28 de Outubro, o Comité Regional que coordenava o funcionamento das células - Padaria Francesa, Cooperativa dos Pintores Portuenses, Campanhã, Antas, Fernão de Magalhães, Eirinhas, Contumil, Senhora das Dores, Gomes Freire, Alexandre Herculano, Corticeira, São Victor, Bonjardim, Liceiras, Costa Cabral, Carvalheiras, Lordelo do Ouro e Maia - reuniu e deliberou:

a) Comemorar, com uma «Semana Comunista», o 9º aniversário da Revolução Russa.
b) Dedicar o n.º 13 do «Bandeira Vermelha» à Revolução de 1917.
c) Fundar uma Escola de militantes comunistas, para os operários e jovens adquirirem conhecimentos das teorias marxistas.

Patenteando ânimo e determinação, os comunistas do Porto ainda promovem a «Semana Comunista», de 7 a 13 de Novembro, com sessões na sede da Federação, no Grupo Dramático Alves da Cunha, na Cooperativa da Mazorra e na Cooperativa dos Operários da Arrábida. Mas, nos alvores de 1927, e na sequência da revolta de 3 de Fevereiro no Porto, e 7 de Fevereiro em Lisboa, os comunistas tornam-se num dos alvos abater.

Em Março, na invicta, as instalações do PCP são encerradas e apreendidos os últimos exemplares do «Bandeira Vermelha».

Começara a longa noite fascista e a actividade clandestina do PCP.



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